quarta-feira, 19 de abril de 2017

Família: 13 Reasons Why | Série Netflix


A série ‘13 Reasons Why, que tem produção executiva de Selena Gomez e episódios dirigidos pelo vencedor do Oscar® Tom McCarthy (Spotlight – Segredos Revelados), se transformou em um fenômeno mundial.
Porém, nem tudo são flores e o tema é bastante polêmico.
O psiquiatra Luís Fernando Tófoli divulgou um texto com 13 Alertas sobre ’13 Reasons Why’ para pais, educadores e profissionais de saúde.
Confira:
http://bh.contextweb.com/bh/rtset?pid=560602&ev=1&rurl=http%3a%2f%2fdis.criteo.com%2frex%2fmatch.aspx%3fc%3d30%26uid%3d%25%25VGUID%25%25
  1. A alardeada série da Netflix, “13 Reasons Why”, baseada em um livro homônimo de Jay Asher (publicado no Brasil como “Os 13 Porquês”), aborda uma série de questões sérias: bullying no ensino médio, machismo, LGBTfobia, abuso sexual e, de uma forma geral, a difícil missão de adolescer. A série, porém, é focada em uma questão central, pivô de toda a história: o suicídio de uma jovem de 17 anos, Hanna Baker, que faz 13 gravações em fitas cassetes, apontando o dedo as pessoas que a desapontaram em seu calvário na High School de uma pequena cidade americana.

  1.  Eu me vi na obrigação de assistir a todo o seriado para poder trazer algumas informações para pais e profissionais de saúde e educação. Não vou me estender na qualidade artística, até porque não é minha função aqui, eu penso. No entanto, afianço que apesar da tensão que prende a assistência até a resolução do mistério, os episódios são longos e cansativos demais. A sensação final é de ser chantageado a aguentar a narrativa arrastada só para poder saber por qual razão o protagonista e bom-moço Clay Jensen foi incluído nas fitas de Hannah.

  1.  A razão principal pela qual eu escrevo estes parágrafos é para focar na questão crucial de uma peça de ficção construída sobre um suicídio adolescente. O suicídio está entre as principais causas de morte na adolescência, competindo com acidentes causados por veículos e, no caso de países como o Brasil, violência armada. Como um agente de formação no campo da Psiquiatria e da Saúde Mental, me vejo na obrigação de fazer alguns comentários – e, porque não, alguns alertas – sobre esta série.

  1. Há sinais preocupantes de que as taxas de suicídios de jovens estão crescendo no mundo e no Brasil. O país, aliás, está na contramão das estatísticas no mundo: também os índices gerais estão subindo – e já o estavam antes da crise econômica – ao invés de cair. Há várias hipóteses sobre o que pode estar levando isso a acontecer, mas acho que o mais importante é frisar que nunca tivemos uma campanha nacional responsável de prevenção do suicídio – apesar do reconhecidamente importante papel do voluntariado do CVV-Centro de Valorização da Vida – e de haver documentação sobre formas de se fazer essa política pública de maneira eficiente.

  1.  Meu ponto principal neste texto não é estragar a série ou dar spoiler, e sim de que pais, educadores e adolescentes estejam cientes de que o programa tem o potencial de causar danos a pessoas que estão emocionalmente fragilizadas e que poderão, sim, ser influenciadas negativamente. Não é absurdo inclusive considerar que, para algumas pessoas, a série possa induzir ao suicídio. Portanto, pessoas em situações de risco deveriam ser desencorajadas a assistir a série. Não estou sozinho nisso, já há pelo menos um crítico no Brasil, o Pablo Villaça, que explicitamente está recomendando que não se assista ao seriado.

  1. O principal erro da série é, de longe, mostrar o suicídio de Hannah. A cena, que acontece no episódio final, é absolutamente desnecessária na narrativa e claramente contrária ao que apregoam os manuais que discutem prevenção de suicídio e mídia. Chega a ser absurdo que os autores da série ignorem completamente o que indicam explicitamente as recomendações da Sociedade Americana para Prevenção do Suicídio, que foram publicadas após a morte do ator Robin Williams (https://goo.gl/vAQkg6) e cheguem à cara de pau de tocar (não neste episódio) a música “Hey, Hey”, de Neil Young, que foi citada na carta suicida do músico Kurt Cobain (https://goo.gl/droI3I).
  2. É verdade que as recomendações são em geral destinadas à imprensa, mas chega a ser absurdo que os realizadores de uma produção sobre o tema não tenham se informado sobre os impactos do que é conhecido como ‘efeito Werther’ – cujo nome vem de uma obra de arte e não de uma ação de imprensa. O efeito é baseado no suposto impacto de Os Sofrimentos do Jovem Werther, livro do século XVIII que alçou Goethe à fama (https://goo.gl/2h4N8U).

  1.  Embora o aumento de suicídios na Alemanha atribuídos ao livro jamais possa ser objetivamente medido, há já um consenso entre suicidologistas de que o fenômeno sofre contágio pela mídia e de que há maneiras pelas quais ele não deva ser retratado. Uma delas, e na qual a série fracassa desgraçadamente, é em não romantizar ou embelezar um suicídio. Evitar a divulgação de cartas suicidas é outro ponto – e é desnecessário dizer que a série toda é uma enorme carta suicida, que embora ficcional, é ouvida pela voz da protagonista, a narradora póstuma da história.

  1.  Outro problema sério da história, especialmente para os sobreviventes (esse é o termo utilizado para os parentes e entes queridos de quem se suicida), é a ideia da culpabilização do suicídio. Grande parte da tensão da série gira em torno de quem é a “culpa” pelo suicídio de Hannah: ela, seus amigos, a escola (que é processada pelos pais da menina), a sociedade. Os especialistas entendem que a busca por culpados é dolorosa e improdutiva. O suicídio é, na sua imensa maioria das vezes, um ato complexo, desesperado e ambíguo, e achar que ele possa ter responsabilidade atribuível é equivaler sua narrativa à de um crime. Embora isso seja compreensível em uma peça de ficção, isso é muito deletério na discussão do tema no mundo real, onde ele de fato os suicídios acontecem.

  1. Dois fatos chamam a atenção ainda, como erros essenciais da produção. Um é não tocar a questão do adoecimento mental, uma vez que a maioria das pessoas que se suicidam apresentam transtornos mentais. O suicídio de Hannah é discutido – como sói frequentemente aos americanos, um povo obcecado pela pretensa liberdade de escolha – como uma “opção”, esquecendo que na grande maioria das vezes a pessoa está aprisionada por um cenário falseado de opções causado pelo seu estado mental. O outro fato é a impressão passada pela narrativa – em especial no último episódio – de que buscar por ajuda é inefetivo, quando isso pode ser a diferença, literalmente, entre a vida e a morte.

  1.  Ainda sobre pedir ajuda, a divulgação da série pretende vender a ideia de conscientização – contando, no Brasil, inclusive com o apoio do CVV. Durante todos os 13 episódios que assisti no Netflix, no entanto, não há qualquer sinal, indicação ou legenda que aponte a hotline do CVV no Brasil (141) ou o seu site (http://www.cvv.org.br) para pessoas que necessitem de apoio e estejam assistindo a história. Após o fim da trama há um extra, meio documentário, meio making of que fala sobre prevenção de suicídio, mas seria necessário, no mínimo, divulgar meios de socorro no início e no fim de cada episódio.

  1.  Nunca é demais lembrar que indagar uma pessoa sobre seu risco de suicídio não aumenta a chance dele acontecer e pode ser a atitude salvadora em diversos casos. Isso é particularmente importante para profissionais de saúde e de educação, que têm muito medo de fazer essa pergunta. Na maioria das vezes, para um potencial suicida, essa pode ser a oportunidade de compartilhar seu desespero e abrir a chance para uma ajuda efetiva.

  1. Concluindo, a premissa de “13 Reasons Why” é excelente: discutir a crueldade cotidiana dos jovens (que me parece ser a mesma crueldade dos humanos, embora em uma fase particularmente frágil da vida) e como ela pode nos afetar de forma devastadora, em alguns casos. No entanto, infelizmente, por negligência ou por pura arrogância, a série acaba fazendo provavelmente um desserviço maior do que sua beneficência. A oportunidade perdida de se discutir suicídio de uma forma cuidadosa se perdeu em meio ao hype, infelizmente.


Parágrafo adicional motivado por alguns comentários (considerem como a 14ª gravação, rs): 14. Gostaria de frisar que não defendo de maneira alguma a censura ou a proibição da série, e muito menos que se evite o debate das questões seríssimas do bullying, da violência de gênero e do estupro. A questão é de, sem querer ofender quem amou a série, refletirmos juntos se alguns cuidados poderiam ser tomados para evitar o prejuízo a pessoas fragilizadas. Elas são a minoria da população, mas o impacto já foi medido e mais de um estudo sobre o efeito Werther. A pergunta aqui é: será que o meu entretenimento vale a vida de alguém?

É preciso ficar atento e acompanhar nossos filhos e alunos.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

DESAFIO DA BALEIA AZUL: JOGO SUICIDA ATRAI JOVENS NO BRASIL


Pelo menos todos os anos um novo "desafio" perigoso surge nas escolas e redes sociais de crianças e adolescentes e tira o sossego dos pais. Como 2017 não poderia ser diferente, um novo jogo suicida surgiu e já fez vítimas no Brasil e Europa.
Conhecido como 'Desafio da Baleia Azul' (ou "Blue Whale Challenge"), o "game" consiste em realizar uma série de 49 a 50 tarefas, antes de fazer alguma loucura para terminar com a própria vida. Os desafios incluem ouvir horas de música psicodélicas, passar um dia inteiro sem dormir assistindo a filmes de terror e até mesmo desenhar uma baleia azul na própria pele através de cortes, tudo isso com um objetivo: o suicídio.
O desafio mortal já levou ao suicídio de três meninas na Rússia, que conseguiram "completar o jogo". Quem demanda os desafios para as pessoas são outros jovens que lideram grupos específicos nas redes sociais. De acordo com a mídia internacional eles chegam a fazer ameaças a quem ousa desistir do jogo. Avisos como "nós iremos atrás de você e da sua família" marcam a atmosfera de medo e tristeza que dezenas de pessoas com depressão vivem ao submeter-se ao desafio. 

Desafio da baleia azul no Brasil


Já se registraram duas vítimas fatais no país: um rapaz de 19 anos morador de Pará de Minas (MG) e uma adolescente de 16 anos de Vila Rica, uma pequena cidade a 1.270 km de Cuiabá (MT).
Além disso, um adolescente de 16 anos, morador do Mary Dota, em Bauru, usou uma lâmina de apontador para cortar várias partes de seu rosto, logo após ter ameaçado o próprio pai com uma faca.
A briga foi o elo para a descoberta dos pais. O garoto contou à uma reportagem que estava na décima quarta "fase" do game, de um total de 50. Ele já havia, inclusive, se automutilado outras vezes e pretendia seguir até o último desafio, ou seja, dar fim à própria vida. "Eu estava disposto a me matar. É difícil lutar pela vida. O jogo é uma escolha mais fácil", disse.
Este, entretanto, não é um caso isolado na região. No de abril outro adolescente de 13 anos também tentou suicídio em Jaú (47 quilômetros de Bauru) aparentemente influenciado pelo "Baleia Azul". Ele precisou ser internado no hospital psiquiátrico Thereza Perlatti. Agora, a família luta para tirá-lo da depressão.

Suicídio e depressão no Brasil


Cerca de 5,8% da população brasileira sofre de depressão – um total de 11,5 milhões de casos registrados no país, segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O índice é o maior na América Latina e o segundo maior nas Américas, atrás apenas dos Estados Unidos, que registram 5,9% da população com o transtorno e um total de 17,4 milhões de casos.
Já falando sobre suicpidio, o Brasil é o oitavo país que mais comete. Entre 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes – alta de 17,8% entre mulheres e 8,2% entre os homens.

Como prevenir o suicídio?

A psicóloga do Centro Terapêutico Multidisciplinar de São Vicente, Tereza Christina Gonçalves diz que as causas dos pensamentos suicidas podem ter início em várias patologias como depressão, esquizofrenia, questões sociais e até mesmo conflitos familiares. "Geralmente a pessoa dá indícios muito claros de que algo não vai bem. Tudo acontece por meias palavras, dizendo que não quer mais viver, que gostaria de fechar os olhos para sempre e que é um inútil para a sociedade", diz.
Segundo a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), todos os anos são registrados cerca de dez mil suicídios no Brasil, e mais de um milhão em todo o mundo. Estima-se que até 2020 poderá ocorrer um aumento de 50% na ocorrência anual de suicídios em todo o mundo, ultrapassando o número de mortes decorrentes de homicídio e guerra combinados. 
Conheça também o Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email, chat e Skype 24 horas todos os dias.
Telefone: 141
Site e contatos: http://www.cvv.org.br/

Fonte: Vila Mulher